9.9.06

Sobre a gravidade

"Por vezes, no seu modo desbragado de falar, dizia, Que a gravidade era um salteador errante; e acrescentava, - e da mais perigosa espécie ainda por cima, porque era fingido; e por isso, acreditava ele piamente, mais pessoas honestas e de boa-fé eram por ela despojadas dos seus bens e dinheiro num só ano do que carteiristas e roubos em lojas em sete anos inteiros. No temperamento franco que um coração alegre revelava, dizia ele, Que não havia perigo, - a não ser para a própria gravidade: - portanto a essência desta era planear, e consequentemente enganar; - o que era um truque sabido para ganhar mais crédito no mundo do que aquilo que o senso e o conhecimento de um homem valiam; e isso, com todas as suas pretensões, - não era melhor, e muitas vezes era pior até, do que aquilo que um espirituoso francês há muito definira, - isto é, Um misterioso porte do corpo para cobrir os defeitos do espírito, - definição de gravidade [de François de La Rochefoucauld, nas "Máximas"] que Yorick, com grande imprudência, dizia merecer ser gravada a letras de oiro."

Laurence Sterne, A Vida e Opiniões de Tristam Shnady, págs. 85 e 86, segundo tradução de Manuel Portela (actual director do TAGV), que tenta manter a pontuação original deste texto do século XVIII
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