30.5.07


Zodiac, realizado em 2007 por David Fincher, com Jake Gyllenhaal, Mark Ruffalo, Anthony Edwards, Robert Downey Jr. e John Carroll Lynch



Compulsion, realizado em 1959 por Richard Fleischer, com Orson Welles a fazer de advogado do diabo. Na cena final do julgamento dos assassinos (dois jovens admiradores de Nitzsche, cujas personagens foram baseadas no famoso crime de Leopold e Loeb) o magnífico Welles profere um discurso inesquecível contra a pena de morte. São raros os filmes assim, com argumentos tão bem escritos e tão complexos. A ver.

24.5.07

A polémica entre Rui Tavares e Helena Matos na última página do Público (podem ver alguns desles na caixa de comentários deste post) tem estado muito interessante. Discute-se o "Estado social" e acho que ambos têm razão, embora Rui Tavares tenha mais razão do que Helena Matos. É verdade, como diz HM, que o Estado social em Portugal não funciona bem. Há graves deficiências, laxismo, desperdício. Há fartar vilanagem. Mas também é verdade, como diz RT, que "quem defende que o Estado social não funciona em Portugal fica com uma pergunta no colo: mais alguma coisa funcionou?" E acrescento eu, quem pode pagar o que funciona fora do Estado social? As boas escolas, os lares, os hospitais privados...
Se o objectivo de criar um "Estado social" se esfumar completamente, como parecem pertender os neoliberais, então teremos a rua a querer tomar conta do poder e da propriedade privada. Isso já aconteceu no passado (veja-se o 25 de Abril, essa explosão da rua) e poderia voltar a acontecer, não fosse a almofada protectora da União Europeia.

Ainda Coimbra...

«É o último dia das fitas. Com a ajuda de um potente anestésico geral estudantes encharcados tentam esquecer o futuro que nunca terão. Outros estão deitados com ternura uns contra os outros, junto à água parada. Têm caras gentis, abertas às lágrimas."
Pedro Paixão

22.5.07

Coimbra é uma lição

11.05.2007, Jornal Público, Carlos Fiolhais

"É pela cultura ou pela falta dela que as cidades de hoje se salvam ou se perdem. Há não uma mas duas Coimbras, uma do sonho e outra da tradição. A situação é - tem sido - um pouco esquizofrénica. Há a Coimbra do Dr. Jekyll e há uma outra do Mr. Hyde. Há quem sonhe em juntar a ciência à história para saber mais sobre os restos mortais de D. Afonso Henriques usando as mais modernas técnicas de antropologia forense e há quem defenda a tradição da inviolabilidade do túmulo do rei fundador receando a reedição na Igreja de Santa Cruz da "maldição dos faraós". Há quem organize exposições com o melhor da arte fotográfica contemporânea e quem não só as deixe abandonadas no Centro de Artes Visuais sem a conveniente publicitação, como também deixe abandonada a instalação de Pedro Cabrita Reis logo à entrada desse centro. Há quem organize na universidade um notável Encontro Internacional de Poetas e há quem se contente todos os anos com uma feira do livro provinciana numa barraca (grande barraca!) com espectáculos folclóricos. Há quem goste das músicas da Brigada Vítor Jara e de J. P. Simões, mas há quem prefira tomar chá animado por Marco Paulo e saltar numa chinfrineira nocturna animada por Quim Barreiros, o eterno convidado da Queima das Fitas. Há quem seja capaz de recuperar o "Laboratório Chimico" pombalino e aí colocar uma espectacular exposição sobre a luz e a matéria e há quem deixe esvanecer a memória do grande homem da ciência que foi o prof. Mário Silva (o monumento em sua homenagem está entregue às urtigas!). Há quem admire o belo casario da cidade, de cima da ponte "Pedro e Inês", no Parque Verde, e há quem, daí, não se assuste ao olhar o desvario urbanístico dos Jardins do Mondego. Há quem goste de se inebriar com os encantos gastronómicos da Quinta das Lágrimas e há quem não repare que o eixo pedonal da cidade não tem um único restaurante decente. Há quem venha aos meetings do Centro Internacional de Matemática ou do Centro de Neurociências e há quem não veja a necessidade de um Centro de Congressos e da respectiva capacidade hoteleira. Há quem ajude no boom de novas empresas tecnológicas na informação e na saúde e há quem não se admire com a inexistência de um parque industrial com dimensão suficiente para abrigar as fornadas de jovens empreendedores que todos os anos saem das universidades. Há quem venha transplantar o coração ao Centro de Cirurgia Cardiotorácica dos Hospitais da Universidade, mas há também quem não se indigne com a falta de dignidade das instalações do Hospital Pediátrico. Há quem se empenhe numa candidatura ganhadora a Património Mundial da Humanidade e há quem não queira sequer competir com outras cidades históricas que cuidam dos seus centros.
Digamos que uma é Coimbra A e outra é Coimbra B, a Estação Nova e a Estação Velha (a propósito, não estará a Estação Velha a precisar de reforma?). São duas cidades que, por força da partilha do mesmo espaço, têm de conviver uma com a outra, mas que são obrigadas a ignorar-se, tal é o desajuste de projectos.
O problema, como alguns dos exemplos apontados dão a entender, é acima de tudo cultural. É pela cultura ou pela falta dela que as cidades de hoje se salvam ou se perdem. Uma cidade que, para o bem e para o mal, foi sempre um símbolo da cultura ou sabe escolher a cultura de que quer ser símbolo, ou não conseguirá sair do seu actual desconforto. Remeter a maior fatia de responsabilidade da sua malaise para a acção ou inacção do Governo central, este ou os anteriores, é ser incapaz de um auto-exame sério.
Claro que o Governo central também tem responsabilidades em alguns dos despautérios do Centro, que são também despautérios nacionais. De resto, o país não estaria mal se o confronto entre o sonho e a tradição, com a tradição a ganhar (a antiguidade é um posto!), fosse apenas em Coimbra. A cidade dá uma boa imagem do país que somos, um país de grandes contrastes e onde coabitam ambições muito diferentes. Para se perceber Portugal não há nada como vir ao Centro. Coimbra é uma lição!
Professor universitário (tcarlos@teor.fis.uc.pt)

18.5.07

Sobre Coimbra

Publicado no Diário de Notícias de 7/11/1983, este artigo, da autoria de Soares Rebelo, procurava ilustrar as características temporais e intemporais de Coimbra. Quase um quarto de século depois, ao lê-lo, fiquei mais espantado com as semelhanças que encontro com a Coimbra actual do que com as diferenças. Crescemos, formou-se uma nova geração. A cidade cresceu fisicamente, através de operações urbanísticas quase sempre duvidosas. Mas, na essência, o que mudou?



"Cidade medieval, bairros antigos sobre um rio e...pomares"

"Fechada por séculos em si mesma, revendo-se, como que adoemecida, na sua Universidade, nas suas tradições e praxes académicas, não se abrindo ao progresso, marginalizando os agentes económicos, Coimbra, auto-suficiente nas suas capas e batinas, borlas e capelos, aluguer de quartos à estudantada, esqueceu-se de si própria, atingindo o Séc. XX inapelavelmente ultrapassada, empobrecida, provinciana

'A terra que vos pinto, meus amigos/ é terra de cantares/ cidade medieval, bairros antigos/ sobre um rio de pomares.'
Coimbra teve em Silva Gaio, poeta de alma ingénua e entusiástica, um dos seus mais dedicados bardos, o Mondego, um dos seus maiores biografos. Mas não só: Camões, Antero, Eça, Régio; Nobre, Torga, entre muitos outros altos vultos das letras lusíadas, dedicaram-lhe igualmente páginas inflamadas de incontida admiração.. Paisagem 'incantatória', cidade obra de arte ('Florença Morena lhe chamaria Veva de Lima), centro privilegiado de cultura e civilização, não admira que o lirismo, em mais que um tempo, em mais que um espaço, a tenha transformado, de facto, num espírito.
Ainda hoje, aliás, tal se verifica. Do Minho ao Algarve, no Brasil, nos países africanos de expressão portuguesa, mesmo em Macau, enfim, onde quer que se encontre um antigo estudante de Coimbra, a 'mística' permanece, a cidade revive. Omnipresente em vastíssima memória, quem por lá passou, quem lhe frequentou as escolas, quem lhe calcorreou a Alta e a Baixa, lhe saboreou as irreverências, viveu os êxitos ou amargou os insucessos da velha Associação Académica, jamais, por certo, a esqueceu - jamais, por certo, a esquecerá.

Quilómetros de 'sebenta', toneladas de praxe

Foram, no entanto, como diria Mário Braga, séculos de cultura fradesca, quilómetros de sebenta, toneladas de praxe a molar-lhe o ideal, a desenhar-lhe o perfil, a imipor-lhe, quisesse ou não, o estatuto de alma-mater, musa do país. E, severamente tutelada pela Universidade com a sua negra torre, donde partiam, segundo Antero, o 'preceito' da Roma jesuítica do século XVIII e o badalar da velha 'cabra', espalhando nos espíritos o 'terror disciplinar de quartel', assim se foi quedando no tempo, auto-suficiente nas suas capas e batinas, no aluguer de quartos à estudantada, vibrando com as suas fogueiras, os bolinhos e bolinhós, a Queima, a Rainha Santa, as rimas dos seus poetas-cantores, a praxe, os fados e guitarradas.
Tal espírito era realmente tudo; havia, portanto, que preservá-lo, transmiti-lo, incólume, de geração em geração, pouco importando, na circunstância, como também denunciaria Quental, o autoritarismo das escolas, anulando toda a liberdade e resistência moral; o favoritismo dos lentes, deprimindo, acostumando o homem a temer, a disfarçar, a vergar a espinha: o literatismo, representado na horrenda sebenta, na exigência do 'ipsis verbis', para quem toda a criação intelectual é daninha; o foro universitário tão anacrónico como as velhas alabardas dos verdiais que o mantinham; a'chamada, os lentes crassos e crúzios, o praxismo dos seus 'pais novos'...
Só que, fechada em si mesma, revendo-se, como que adormecida, na sua Universidade, nas suas tradições académicas, esqueceu-se de si própria, atingindo o século XX inapelavelmente ultrapassada, empobrecida, provinciana. Que mais é hoje realmente, passo o exagero, 'que quadro' de Gaio: uma 'cidade medieval, bairros antigos sobre um rio e pomares'? Dita dos doutores, os seus burgueses pouco por ela fizeram: desmotivados, os futricas foram deixando andar, poucos se empenhando com o progresso comunitário, com o desenvolvimento sócio-económico, a exploração mais adequadas das suas múltiplas potencialidades. E o resultado está à vista.
Vítimas, tal como tudo, afinal, que é província neste país, da macrocefalia nacional, tesmosa na manutenção do seu estatuto 'sui generis' de cidade universitária, acomodada à sombra tutlelar da velha torre, acabou, inclusivamente, por permitir que se fosse esbatendo a imagem de 'cidade sempre moça, onde a alma, de viver, se não fartava'. Falha de iniciativa e poder de conquista, deixou que os ultrajes do tempo e do destino, a incúria dos homens e as sucessivas más gestões municipais a decompusessem, lhe corroessem a traça, lhe empobrecessem a existência."
(...)

11.5.07

Sobre o Jornalismo (adenda)

A histeria de Lagos

11.05.2007, José Miguel Júdice


«O que se está a passar por estes dias no Algarve é realmente um exemplo do estado a que chegaram as sociedades modernas. O PÚBLICO refere na primeira página, na passada quarta-feira, que todos os anos muitos milhares de crianças desaparecem na Europa e informa que, segundo a Unicef, 1,2 milhões de crianças serão anualmente traficadas. A criança que desapareceu em Lagos é o primeiro caso de um menor desaparecido em Portugal a ser incluído no site da polícia britânica que trata desse flagelo.
Estes os factos. O resto é pura e simplesmente histeria.
Ponderei bastante antes de decidir dedicar a este tema a minha crónica semanal. Mas, confesso, acabei por decidir-me, baseado num movimento de revolta. Sou capaz de resistir a provocações e a sentimentos de revolta, mas, em regra, prefiro não o fazer. Creio que assim arranjo alguns inimigos, mas julgo que também evito alguns enfartes de miocárdio. E, se não gosto de enfartes, até aprecio ter inimigos; pelo que vamos a isto.
O que se está a passar por estes dias no Algarve é realmente um exemplo do estado a que chegaram as sociedades modernas e do papel profundamente nefasto que exerce a comunicação social quando decide explorar sentimentos para divulgação em prime time. O rapto de crianças é um horror, tudo o que se faça para o evitar é positivo, a consciência social tem de ser alertada para o problema.
Mas, dito isto, o rapto de crianças aos milhares, o fenómeno das crianças guerreiras em África, o genocídio em Darfur, os carros-bomba no Iraque que matam inocentes todos os dias, os acidentes de viação que ceifam vidas à saída de discotecas são o lado horrível de um tempo em que, se comparado com outras épocas da longa história da Humanidade, vale a pena viver.
Nada tenho contra uma estratégia que alerte para perigos que resultam de estarmos vivos, utilizando para isso alguns acontecimentos que, em si mesmos, são capazes de fixar a atenção dos cidadãos. E, por isso, admito que o caso da criança desaparecida em Lagos possa ser usado para efeitos pedagógicos. Nada tenho contra o debate sobre este tema (por exemplo, será razoável que pais deixem filhos muito pequenos sozinhos num lugar estranho?), mas não é, obviamente, disso que se trata. Aquilo a que assistimos é a uma telenovela estruturada para captar a atenção dos espectadores, provocando neles uma sensação de receio e de empatia ("isto podia ter-me acontecido a mim"), que todos sabemos ser o segredo do sucesso nas audiências televisivas.
Os órgãos de comunicação social gostam de valorizar o seu papel estruturante para a existência do Estado de direito. E baseiam na responsabilidade social a importância da sua actividade de denúncia de situações de corrupção e da legitimidade para resistirem a pressões políticas e económicas.
Podemos, cinicamente, afirmar que tudo isso não são mais do que tretas, má-fé, pretextos para justificar o injustificável e aumentar audiências. No meu caso, pelo contrário, afirmo que concordo com essa visão que os media gostam de dar de si próprios. Apenas exijo que, sendo assim, sejam capazes de viver de acordo com tão elevadas e meritórias ideias.
A criança desaparecida é inglesa, branca, filha de médicos bem integrados na comunidade, seguramente pessoas estimáveis, que pagam impostos e contribuem para o progresso do seu país. Mas outras crianças oriundas de territórios menos favorecidos, com pais menos integrados, desaparecem, morrem ou são raptadas todos os dias aos milhares por esse mundo fora. Mesmo em Portugal, isso vem acontecendo, infelizmente, com alguma regularidade. Citando de novo o PÚBLICO, no meritório texto que divulgou, em 2006 desapareceram em Portugal 31 crianças, mais de metade das quais com idades entre 11 e 15 anos. Apesar disso, não vi helicópteros e aviões fretados por canais de televisão, centenas de polícias e de cães mobilizados, embaixadores a fazer declarações no meio de ambulâncias, o Presidente da República a ser solicitado para declarações públicas.
As sociedades modernas vieram dar oportunidades e condições de vida que as grandes massas ao longo dos séculos nem sequer suspeitavam que fossem atingíveis. Esse enorme salto em frente vem inevitavelmente associado a riscos e perigos novos, diferentes dos que dizimavam as sociedades tradicionais. O que se passou em Lagos é estatisticamente uma inevitabilidade que decorre da realidade que define o nosso tempo; e é estatisticamente irrelevante em Portugal. Pelo contrário, o que se passa noutros países, alguns dos quais atrás mencionei, não é estatisticamente irrelevante. Mas os media, britânicos ou portugueses, estão-se positivamente borrifando, é para o lado que dormem melhor, estão-se nas tintas, porque manifestamente é mais perigoso e dá menos audiências relatar a tragédia cósmica de Darfur do que descrever em directo os pormenores do drama familiar de Lagos.
Estes são factos. Por muito que custem a engolir. Aqui ficam, por isso, relatados. Para que ao menos haja uma pessoa que escreva o que ouço dizer a muitas pessoas com que me tenho cruzado nos últimos dias.» Advogado

9.5.07

Sobre o jornalismo


Christopher Morris, My America

Excertos da entrevista dada ao Público por Christopher Morris, fotógrafo da Time e e, mais recentemente, fotógrafo oficial da Casa Branca:

A última vez que cobriu uma guerra foi o Iraque em 2003. Foi muito diferente dos conflitos que fotografou nos anos 80 e 90?

Nãããããoooo.

O seu portfólio no site da Time mostra uma guerra mais limpa. Não há sinais de sangue, de resistência aos soldados americanos, praticamente não se vêem mortos...

Proque eles não quiseram publicar. Tenho uma bela foto de um soldado americano a segurar uma perna, a andar com uma perna humana na mão, não me faltam coisas desse género. Mas eles não publicavam coisas desse género. Estávamos em 2003, o país inteiro era a favor da guerra, os média eram a favor da guerra. Lembro-me de chegarmos a Bagdad e haver, finalmente, combates a sério. Eles [os americanos]mataram civis e havia muita gente morta, fotografei tudo isso. Três dias depois, a estátua de Saddam veio abaixo. Eu mandei umas 70 fotografias para a Time, o que é bastante, e os editores disseram-se: 'Não vamos usar as tuas fotografias esta semana'. Queriam fotografias de crianças com flores à volta dos soldados. 'Tens alguma coisa assim?' E eu respondi: 'Nem sequer vi nada assim'. Aqui onde estou nós parecemos conquistadores, não libertadores. Nesta zona de Bagdad não estão a atirar-nos flores!' Mas eles não queriam ouvir isso. Havia uma fotografia que eu queria muito que eles publicassem. O grupo onde eu estava matou uma série de civis e dois soldados começaram a arrastar o corpo de um adolescente pelos pés, o rosto dele na estrada... Não era o que o público americano queria ver. Eles queriam ver a estátua a cair, o povo libertado... Até os média americanos queriam isso. Era a América patriótica - 'born in the USA'- Bruce Springsteen, esse tipo de movimento era dominante. As únicas a falar contra a guerra foram as Dixie Chicks [banda feminina de country] e foram arrasadas. Foi por isso que quem era contra acabou por ficar calado, toda a gente tinha medo de falar. Conseguiram que vencesse a ideia 'ou estás connosco ou estás contra nós'.

Trabalhar como jornalista embeded, incorporado numa divisão do exército americano, limitou as suas acção de alguma maneira?

Não. Se vamos documentá-los [aos soldados], o ideal é sermos amigos deles. Queremos viver com eles, queremos que eles confiem em nós. Se acaba de encontrar um grupo de soldados e eles estiverem a fazer qualquer coisa errada, não vão deixá-la fotografá-los. A fotografia dos soldados a arrastarem corpos pela estrada... se eu, um fotógrafo, tivesse acabado de chegar, eles não me deixariam fotografar aquilo. Teriam apontado as armas a mim. Mas eu tinha estado a viver com eles, nem sequer deram por mim ali. E isso só é possível estando embeded.

Então é uma coisa positiva?

Sim.

[Ver aqui o portfólio da cobertura que Morris fez, em Março e Abril de 2003, do início da ofensiva norte-americana no Iraque, aqui algumas das fotos do livro My America, que produziu enquanto fotógrafo da Casa Branca e aqui o protfólio dedicado pela Time à "pessoa do ano" (Bush).]

2.5.07

Indielisboa 2007

Este ano não tive disponibilidade para acompanhar o Indielisboa como em 2006. Talvez por isso, apesar da maior afluência de público, pareceu-me que a escolha de filmes deste ano foi menos interessante. Ainda assim, a organização, competente, continua de parabéns, com o festival a ganhar o seu espaço e os seus fiéis. Os meus destaques deste ano, com as sinopses fornecidas pelo site oficial do Indie:




Old Joy
, de Kelly Reichardt - «Pouco convencional e contando com o cantor Will Oldham como o improvável actor principal, OLD JOY retrata a inevitável crise existencial que ocorre na passagem para uma vida adulta mais amadurecida. Como um observador externo dos protagonistas, o filme transporta-nos para nuances psicológicas um pouco ao estilo de “Lost in Translation” ou “Before Sunrise” e “Before Sunset”, mas com o cunho muito próprio de Kelly Reichardt.
A realizadora impregna cada imagem do filme com uma atmosfera melancólica, complementada com o excelente desempenho dos actores e uma grande dose de realismo e substância. A banda sonora dos Yo La Tengo é estonteante e dá ao filme um simpático suporte, ressaltando ainda mais a subtil abordagem à intimidade masculina, à insatisfação ideológica. Tal como acontece com as personagens, o que perdura na memória do espectador são todas as coisas que não chegam a ser ditas.»



The Pervert's Guide To Cinema, de Slavoj Zizek e Sophie Fiennes - «O que pode a psicanálise dizer-nos sobre o cinema? Esta é a pergunta a que THE PERVERT´S GUIDE TO CINEMA se propõe responder. O filme conduz o espectador através de uma estimulante viagem por alguns dos maiores filmes de sempre. O guia e apresentador é Slavoj Zizek, o carismático filósofo e psicanalista esloveno. Na sua apaixonada abordagem ao pensamento, vasculha a linguagem escondida do cinema, revelando o que os filmes podem dizer-nos sobre nós próprios. Seja destrinçando os enigmáticos filmes de David Lynch, ou deitando por terra tudo o que se pensava saber sobre Hitchcock. O filme estrutura-se a partir do próprio mundo dos filmes que discute; filmado em ambientes originais ou em réplicas dos cenários, cria-se a ilusão que Zizek fala a partir do interior dos próprios filmes. “The Birds” e “Psycho”, de Hitchcock são abordados por Zizek, considerando que aquele realizador é, provavelmente, o mais freudiano de todos. Prestem atenção à comparação que Zizek faz entre os três andares da assustadora mansão de Norman Bates (“Psycho”) e o conceito freudiano de Id, Ego e Superego. O psicanalista esloveno expõe os seus argumentos de forma tão natural e convincente e ao mesmo tempo tão rápida, que a nossa mente começa a girar vertiginosamente. Uma viagem imperdível.»



The US vs, John Lennon, de David Leaf e John Scheinfeld -«É fã dos Beatles? Então não perca THE U.S. VS. JOHN LENNON. Não é fã? Veja na mesma, pois vai gostar de conhecer o homem que ousou desafiar o sistema! David Leaf e John Scheinfeld mostram-nos de forma notável a evolução de John "Give Peace a Chance" Lennon, na sua luta activa pela paz e os ódios e opressões que essa postura lhe trouxe. Especialmente focado no período pós-Beatles e numa época da sua vida (finais dos anos 60, início dos anos 70) em que o músico se transformou num activista contra a guerra, o que lhe valeu uma campanha de Nixon com vista à sua deportação, em 1972. Um extraordinário trabalho de investigação, o documentário exibe depoimentos de várias personalidades próximas do músico, imagens inéditas e uma entrevista com Yoko Ono.»

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