21.9.06

Sobre deuses e profetas


PB, Bodhgaya (Índia)

“Buda fala dos problemas que existiriam, mesmo para o homem que tivesse toda a parte material da sua existência perfeitamente resolvida: ele próprio é um príncipe que tem tudo quanto quer e que tudo abandona porque sente o trágico da vida, de uma vida que é trágica exactamente porque é vida; a acção, por consequência, aparece como um mal para o Buda; o que encontramos em Cristo é bem diferente: Jesus vem dos pobres, é um deles, e interessam-no pouco as questões metafísicas, como o interessam pouco as questões morais que não signifiquem uma ajuda para o estabelecimento do Reino; a piedade, o amor ao próximo, são em Buda uma consequência da vanidade e da dor de viver: deve-se ser bom para tudo o que existe, porque tudo sofre de existir; a piedade de Jesus, o amor que ele reclama são uma força revolucionária, nesse sontido de que hão-de apressar a vinda do mundo divinizado: se o rico amasse o seu irmão, pensa Jesus, as riquezas igualmente distribuídas dariam para todos e o mundo seria feliz; mas Buda, ao abandonar a riqueza, não o faz por amor aos outros: sendo pobre sofre menos, porque vive com menos intensidade. Exactamente porque não anseia por nenhum modelo do mundo, mas quer abolir o mundo, exactamente porque não tem de apontar aos homens um padrão de existência e uma esperança de protecção, mas o Nada, Buda não precisa de Deus; em Jesus ele aparece continuamente e tão presente em tudo, nos céus, na terra, nas plantas e nos meninos, que quase poderíamos falar num panteísmo (…)"
Agostinho da Silva, O Cristianismo, Edição de Autor, 1942, pags 14,15



PB, Bodhgaya (Índia)


“Tudo o que é belo e nobre resulta da razão e do cálculo. O crime, cujo gosto o animal humano bebeu no ventre da mãe, é originariamente natural. A virtude, pelo contrário, é artificial, sobrenatural, uma vez que em todos os tempos e em todas as nações foram precisos deuses e profetas para a ensinar à humanidade animalizada, visto que o homem por si só seria incapaz de a descobrir. O mal faz-se sem esforço, naturalmente, por fatalidade; o bem é sempre produto de uma arte”
Charles Baudelaire, A Invenção da Moralidade, Relógio D’Água, 2006, pág. 309
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