27.1.06

luto

Se tentámos desesperadamente descrever a nossa cidade, é porque não tolerávamos que escapasse a todas as definições, numa transmutação vertiginosa, sem deixar espaço à memória nem ao reconhecimento. Como o velho que regressa à casa de infância, também nós errávamos por cenários de alegria escaqueirada, por esplanadas áridas. Pela inocência esboroada, pelo que havia sido. Ignorando o fantasma da esquina seguinte, seguíamos caminho com um certo despojamento budista, esquivando-nos à nostalgia. Os nossos esforços de fixar Coimbra no papel eram em vão: a cidade transitória não tinha, afinal, mudado na essência.


Só as pessoas podem insuflar os sítios de vida, é sabido. Só elas podem, ao abandoná-los, aniquilar o seu significado. A desolação de ontem é a de hoje e as ilusões de hoje são as de ontem. Faz pena os jardins serem infrutíferos faz pena os jardins serem infrutíferos faz pena os jardins serem infrutíferos faz pena os jardins serem infrutíferos faz pena os jardins serem infrutíferos faz pena os jardins serem infrutíferos faz pena os jardins serem infrutíferos faz pena os jardins serem infrutíferos faz pena os jardins serem infrutíferos faz pena os jardins serem infrutíferos faz pena os jardins serem infrutíferos faz pena os jardins serem infrutíferos faz pena os jardins serem infrutíferos faz pena os jardins serem infrutíferos faz pena os jardins serem infrutíferos

[Texto escrito em 25/5/02, a imagem é de Andrea Inocêncio, chama-se "FANTASIAS DE UM HOMEM COM UM BAGO DE UVA QUE NÃO QUERIA SER CONSUMIDO" e retrata um amigo meu de Coimbra]
Comments:
Faz (mesmo) pena os jardins serem infrutíferos.

abraço
 
"o silêncio estrutural das flores o silêncio estrutural das flores"
 
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