31.12.07

Contemplando o Jazz

Agradecendo a todos os frequentadores, a gerência do Economia de Palavras informa que encerra aqui as suas diletâncias para se dedicar a ir contemplando o Jazz.

Good night and good luck!

22.11.07

30.10.07

sublinha a opção pela montagem de uma viga metálica de 80 metros de comprimento 6 de largura e 60 toneladas de peso é nessa viga que é suportada a cobertura devido às condicionantes do local o método escolhido para a montagem consistiu em elevar a viga inteira a partir do solo através de quatro dispositivos hidráulicos ancorados aos torreões na opinião de muitos dos especialistas em domótica presentes ccb a tendência é equipar os edifícios de raiz com sistemas de domótica e trazer as suas funcionalidades para os telemóveis e outros dispositivos móveis apresentar a contribuição da sgs para artigo sobre certificação na área da construção em anexo seguem para além das quedas em altura, as principais causas directas de mortalidade no trabalho continuam a ser esmagamentos e a electrocussão as causas indirectas passam segundo a igt pela falta de planeamento da prevenção na fase de projecto e já em fase de obra pela não integração dos procedimentos de segurança nas metodologias de trabalho para os devidos efeitos vimos por este meio comunicar que o contrato de trabalho a termo certo celebrado entre esta empresa e v. exa.não será renovado agradecendo a colaboração prestada ao

9.10.07

Escrever um texto
e deixá-lo abandonado na página.

Não voltar a lê-lo,
não o mostrar a ninguém,
não o mandar a nenhum lado.
Que fique no seu repouso de texto.

E deixar que aí encontre o seu leitor,
como todos os textos o encontram.

Também o que levamos escrito dentro
e nos parece impossível que alguém possa ler.

Roberto Juarroz, Poesia Vertical, antologia editada pela Campo das Letras, tradução de Arnaldo Saraiva

29.8.07

"Não se trata apenas da mera impossibilidade de se prever todas as consequências lógicas de determinado acto, pois se assim fosse um computador electrónico poderia prever o futuro; a imprevisibilidade decorre directamente da história que, como resultado da acção, se inicia e se estabelece assim que passa o fugaz instante do acto. O problema é que, seja qual for a natureza e o conteúdo da história subsequente – quer transcorra na vida pública ou na vida privada, quer envolva muitos ou poucos actores – o seu pleno significado só se revela quando ela termina. Ao contrário da fabricação, em que a luz à qual se julga o produto final provém da imagem ou modelo percebido de antemão pelo artífice, a luz que ilumina os processos da acção e, portanto, todos os processos históricos, só aparece quando eles terminam – muitas vezes quando todos os participantes já estão mortos. A acção só se revela plenamente para o narrador da história, ou seja, para o olhar retrospectivo do historiador, que realmente sabe sempre melhor o que aconteceu do que os próprios participantes. Todo o relato feito pelos próprios actores, ainda que, em raros casos, constitua uma versão fidedigna das suas intenções, finalidades e motivos, não passa de fonte útil nas mãos do historiador e nunca tem a mesma significância e veracidade da sua história. Aquilo que o contador de histórias pretende narrar deve necessariamente permanecer oculto para o actor, pelo menos enquanto este último estiver empenhado no acto ou nas suas consequências, pois, para o actor, o sentido do acto não está na história que dele decorre. Muito embora as histórias sejam o resultado inevitável da acção, não é o actor, mas o narrador que percebe e 'faz' a história."

Hannah Arendt; A Condição Humana, pág. 242 (edição Relógio de Água)

20.8.07

"Vistos, porém, na sua qualidade mundana, a acção, o discurso e o pensamento têm muito mais em comum entre si que qualquer um deles tem com o trabalho ou o labor. Em si, não ‘produzem’ nem gerem coisa alguma: são tão fúteis como a própria vida. Para que se tornem coisas mundanas, isto é, feitos, factos, eventos e organizações de pensamentos ou ideias, devem primeiro ser vistos, ouvidos e lembrados, e em seguida transformados, ‘coisificados’, por assim dizer – em ditos poéticos, na página escrita ou no livro impresso, em pintura ou escultura, em algum tipo de registo, documento ou monumento. Todo o mundo factual dos negócios humanos depende, para a sua realidade e existência contínua, em primeiro lugar da presença de outros que tenham visto e ouvido e que lembrarão; e em segundo lugar, na transformação do intangível na tangibilidade das coisas. Sem a lembrança e sem a reificação de que a lembrança necessita para a sua própria realização – e que realmente a tornam, como afirmavam os gregos, a mãe de todas as artes – as actividades vivas da acção, do discurso e do pensamento perderiam a sua realidade ao fim de cada processo e desapareceriam como se nunca houvessem existido. A materialização que eles devem sofrer para que permaneçam no mundo é paga com a substituição pela ‘letra morta’ de algo que nasceu do ‘espírito vivo’, e que realmente, durante um momento fugaz, existiu como espírito vivo. Têm de pagar esse preço porque, em si, são de natureza inteiramente extramundana, e portanto requerem o auxílio de uma actividade de natureza completamente diferente; dependem, para a sua realização e materialização, do mesmo artesanato que constrói as outras coisas do artifício humano.
A realidade e a confiabilidade do mundo humano repousam basicamente no facto de estarmos rodeados de coisas mais permanentes que a actividade pela qual foram produzidas e potencialmente mais permanentes que a vida dos seus autores."

Hannah Arendt; A Condição Humana, pág. 120 (edição Relógio de Água)

16.8.07


"'Y ahora qué'. La única forma de zafarse de esa pergunta no es repetirla, sino que no exista y no hacérsela ni permitir que nadie se la haga a uno. Pero eso es impossible, y tal vez por eso, para contestársela, hay que inventarse problemas e sufrir aprensiones y tener sospechas y pensar en el futuro abstracto, pensar com tan enfermo cerebro o tan enfermizamente com el cerebro, ‘so brainsickly of things’ como lo dijeron que no hiciera a Macbeth, ver lo que no hay para que haya algo, temer a la enfermedad o a la muerte, al abandono o a la traición, y crearse amenazas, aunque sea por pessoa interpuesta, aunque sea analógicamente o simbólicamente, y quiza sea esto lo que nos leva a leer novelas y crónicas y a ver películas, la búsqueda de la analogia, del símbolo, la búsqueda del reconocimento, no del conocimiento. Contar deforma, contar los hechos deforma los hechos e los tergiversa y casi los niega, todo lo que se cuenta pasa a ser irreal y aproximativo aunque sea verídico, la verdad no depende de que las cosas fueran ou sucedíeran, sino de que permanezcan ocultas y se desconozcan y no se cuenten, en cuanto se relatan o se manifiestan o muestran, aunque sea en lo que más real parece, en la televisión o el periódico, en lo que se llama la realidad o la vida o la vida real incluso, pasan a formar parte de la analogia y el símbolo, y ya no son hechos, sino que se convierten en reconocimiento. La verdad nunca resplandece, como dice la fórmula, porque la única verdade es la que no se conoce ni se transmite, la que no se traduce a palavras ni a imágenes, la encubierta y no averiguada, y quizá por eso se cuenta tanto o se cuenta todo, para que nunca haya ocurrido nada, una vez que se cuenta."

Javier Marias, Corazón tan Blanco [obra prima], pág. 271

30.5.07


Zodiac, realizado em 2007 por David Fincher, com Jake Gyllenhaal, Mark Ruffalo, Anthony Edwards, Robert Downey Jr. e John Carroll Lynch



Compulsion, realizado em 1959 por Richard Fleischer, com Orson Welles a fazer de advogado do diabo. Na cena final do julgamento dos assassinos (dois jovens admiradores de Nitzsche, cujas personagens foram baseadas no famoso crime de Leopold e Loeb) o magnífico Welles profere um discurso inesquecível contra a pena de morte. São raros os filmes assim, com argumentos tão bem escritos e tão complexos. A ver.

24.5.07

A polémica entre Rui Tavares e Helena Matos na última página do Público (podem ver alguns desles na caixa de comentários deste post) tem estado muito interessante. Discute-se o "Estado social" e acho que ambos têm razão, embora Rui Tavares tenha mais razão do que Helena Matos. É verdade, como diz HM, que o Estado social em Portugal não funciona bem. Há graves deficiências, laxismo, desperdício. Há fartar vilanagem. Mas também é verdade, como diz RT, que "quem defende que o Estado social não funciona em Portugal fica com uma pergunta no colo: mais alguma coisa funcionou?" E acrescento eu, quem pode pagar o que funciona fora do Estado social? As boas escolas, os lares, os hospitais privados...
Se o objectivo de criar um "Estado social" se esfumar completamente, como parecem pertender os neoliberais, então teremos a rua a querer tomar conta do poder e da propriedade privada. Isso já aconteceu no passado (veja-se o 25 de Abril, essa explosão da rua) e poderia voltar a acontecer, não fosse a almofada protectora da União Europeia.

Ainda Coimbra...

«É o último dia das fitas. Com a ajuda de um potente anestésico geral estudantes encharcados tentam esquecer o futuro que nunca terão. Outros estão deitados com ternura uns contra os outros, junto à água parada. Têm caras gentis, abertas às lágrimas."
Pedro Paixão

22.5.07

Coimbra é uma lição

11.05.2007, Jornal Público, Carlos Fiolhais

"É pela cultura ou pela falta dela que as cidades de hoje se salvam ou se perdem. Há não uma mas duas Coimbras, uma do sonho e outra da tradição. A situação é - tem sido - um pouco esquizofrénica. Há a Coimbra do Dr. Jekyll e há uma outra do Mr. Hyde. Há quem sonhe em juntar a ciência à história para saber mais sobre os restos mortais de D. Afonso Henriques usando as mais modernas técnicas de antropologia forense e há quem defenda a tradição da inviolabilidade do túmulo do rei fundador receando a reedição na Igreja de Santa Cruz da "maldição dos faraós". Há quem organize exposições com o melhor da arte fotográfica contemporânea e quem não só as deixe abandonadas no Centro de Artes Visuais sem a conveniente publicitação, como também deixe abandonada a instalação de Pedro Cabrita Reis logo à entrada desse centro. Há quem organize na universidade um notável Encontro Internacional de Poetas e há quem se contente todos os anos com uma feira do livro provinciana numa barraca (grande barraca!) com espectáculos folclóricos. Há quem goste das músicas da Brigada Vítor Jara e de J. P. Simões, mas há quem prefira tomar chá animado por Marco Paulo e saltar numa chinfrineira nocturna animada por Quim Barreiros, o eterno convidado da Queima das Fitas. Há quem seja capaz de recuperar o "Laboratório Chimico" pombalino e aí colocar uma espectacular exposição sobre a luz e a matéria e há quem deixe esvanecer a memória do grande homem da ciência que foi o prof. Mário Silva (o monumento em sua homenagem está entregue às urtigas!). Há quem admire o belo casario da cidade, de cima da ponte "Pedro e Inês", no Parque Verde, e há quem, daí, não se assuste ao olhar o desvario urbanístico dos Jardins do Mondego. Há quem goste de se inebriar com os encantos gastronómicos da Quinta das Lágrimas e há quem não repare que o eixo pedonal da cidade não tem um único restaurante decente. Há quem venha aos meetings do Centro Internacional de Matemática ou do Centro de Neurociências e há quem não veja a necessidade de um Centro de Congressos e da respectiva capacidade hoteleira. Há quem ajude no boom de novas empresas tecnológicas na informação e na saúde e há quem não se admire com a inexistência de um parque industrial com dimensão suficiente para abrigar as fornadas de jovens empreendedores que todos os anos saem das universidades. Há quem venha transplantar o coração ao Centro de Cirurgia Cardiotorácica dos Hospitais da Universidade, mas há também quem não se indigne com a falta de dignidade das instalações do Hospital Pediátrico. Há quem se empenhe numa candidatura ganhadora a Património Mundial da Humanidade e há quem não queira sequer competir com outras cidades históricas que cuidam dos seus centros.
Digamos que uma é Coimbra A e outra é Coimbra B, a Estação Nova e a Estação Velha (a propósito, não estará a Estação Velha a precisar de reforma?). São duas cidades que, por força da partilha do mesmo espaço, têm de conviver uma com a outra, mas que são obrigadas a ignorar-se, tal é o desajuste de projectos.
O problema, como alguns dos exemplos apontados dão a entender, é acima de tudo cultural. É pela cultura ou pela falta dela que as cidades de hoje se salvam ou se perdem. Uma cidade que, para o bem e para o mal, foi sempre um símbolo da cultura ou sabe escolher a cultura de que quer ser símbolo, ou não conseguirá sair do seu actual desconforto. Remeter a maior fatia de responsabilidade da sua malaise para a acção ou inacção do Governo central, este ou os anteriores, é ser incapaz de um auto-exame sério.
Claro que o Governo central também tem responsabilidades em alguns dos despautérios do Centro, que são também despautérios nacionais. De resto, o país não estaria mal se o confronto entre o sonho e a tradição, com a tradição a ganhar (a antiguidade é um posto!), fosse apenas em Coimbra. A cidade dá uma boa imagem do país que somos, um país de grandes contrastes e onde coabitam ambições muito diferentes. Para se perceber Portugal não há nada como vir ao Centro. Coimbra é uma lição!
Professor universitário (tcarlos@teor.fis.uc.pt)

18.5.07

Sobre Coimbra

Publicado no Diário de Notícias de 7/11/1983, este artigo, da autoria de Soares Rebelo, procurava ilustrar as características temporais e intemporais de Coimbra. Quase um quarto de século depois, ao lê-lo, fiquei mais espantado com as semelhanças que encontro com a Coimbra actual do que com as diferenças. Crescemos, formou-se uma nova geração. A cidade cresceu fisicamente, através de operações urbanísticas quase sempre duvidosas. Mas, na essência, o que mudou?



"Cidade medieval, bairros antigos sobre um rio e...pomares"

"Fechada por séculos em si mesma, revendo-se, como que adoemecida, na sua Universidade, nas suas tradições e praxes académicas, não se abrindo ao progresso, marginalizando os agentes económicos, Coimbra, auto-suficiente nas suas capas e batinas, borlas e capelos, aluguer de quartos à estudantada, esqueceu-se de si própria, atingindo o Séc. XX inapelavelmente ultrapassada, empobrecida, provinciana

'A terra que vos pinto, meus amigos/ é terra de cantares/ cidade medieval, bairros antigos/ sobre um rio de pomares.'
Coimbra teve em Silva Gaio, poeta de alma ingénua e entusiástica, um dos seus mais dedicados bardos, o Mondego, um dos seus maiores biografos. Mas não só: Camões, Antero, Eça, Régio; Nobre, Torga, entre muitos outros altos vultos das letras lusíadas, dedicaram-lhe igualmente páginas inflamadas de incontida admiração.. Paisagem 'incantatória', cidade obra de arte ('Florença Morena lhe chamaria Veva de Lima), centro privilegiado de cultura e civilização, não admira que o lirismo, em mais que um tempo, em mais que um espaço, a tenha transformado, de facto, num espírito.
Ainda hoje, aliás, tal se verifica. Do Minho ao Algarve, no Brasil, nos países africanos de expressão portuguesa, mesmo em Macau, enfim, onde quer que se encontre um antigo estudante de Coimbra, a 'mística' permanece, a cidade revive. Omnipresente em vastíssima memória, quem por lá passou, quem lhe frequentou as escolas, quem lhe calcorreou a Alta e a Baixa, lhe saboreou as irreverências, viveu os êxitos ou amargou os insucessos da velha Associação Académica, jamais, por certo, a esqueceu - jamais, por certo, a esquecerá.

Quilómetros de 'sebenta', toneladas de praxe

Foram, no entanto, como diria Mário Braga, séculos de cultura fradesca, quilómetros de sebenta, toneladas de praxe a molar-lhe o ideal, a desenhar-lhe o perfil, a imipor-lhe, quisesse ou não, o estatuto de alma-mater, musa do país. E, severamente tutelada pela Universidade com a sua negra torre, donde partiam, segundo Antero, o 'preceito' da Roma jesuítica do século XVIII e o badalar da velha 'cabra', espalhando nos espíritos o 'terror disciplinar de quartel', assim se foi quedando no tempo, auto-suficiente nas suas capas e batinas, no aluguer de quartos à estudantada, vibrando com as suas fogueiras, os bolinhos e bolinhós, a Queima, a Rainha Santa, as rimas dos seus poetas-cantores, a praxe, os fados e guitarradas.
Tal espírito era realmente tudo; havia, portanto, que preservá-lo, transmiti-lo, incólume, de geração em geração, pouco importando, na circunstância, como também denunciaria Quental, o autoritarismo das escolas, anulando toda a liberdade e resistência moral; o favoritismo dos lentes, deprimindo, acostumando o homem a temer, a disfarçar, a vergar a espinha: o literatismo, representado na horrenda sebenta, na exigência do 'ipsis verbis', para quem toda a criação intelectual é daninha; o foro universitário tão anacrónico como as velhas alabardas dos verdiais que o mantinham; a'chamada, os lentes crassos e crúzios, o praxismo dos seus 'pais novos'...
Só que, fechada em si mesma, revendo-se, como que adormecida, na sua Universidade, nas suas tradições académicas, esqueceu-se de si própria, atingindo o século XX inapelavelmente ultrapassada, empobrecida, provinciana. Que mais é hoje realmente, passo o exagero, 'que quadro' de Gaio: uma 'cidade medieval, bairros antigos sobre um rio e pomares'? Dita dos doutores, os seus burgueses pouco por ela fizeram: desmotivados, os futricas foram deixando andar, poucos se empenhando com o progresso comunitário, com o desenvolvimento sócio-económico, a exploração mais adequadas das suas múltiplas potencialidades. E o resultado está à vista.
Vítimas, tal como tudo, afinal, que é província neste país, da macrocefalia nacional, tesmosa na manutenção do seu estatuto 'sui generis' de cidade universitária, acomodada à sombra tutlelar da velha torre, acabou, inclusivamente, por permitir que se fosse esbatendo a imagem de 'cidade sempre moça, onde a alma, de viver, se não fartava'. Falha de iniciativa e poder de conquista, deixou que os ultrajes do tempo e do destino, a incúria dos homens e as sucessivas más gestões municipais a decompusessem, lhe corroessem a traça, lhe empobrecessem a existência."
(...)

11.5.07

Sobre o Jornalismo (adenda)

A histeria de Lagos

11.05.2007, José Miguel Júdice


«O que se está a passar por estes dias no Algarve é realmente um exemplo do estado a que chegaram as sociedades modernas. O PÚBLICO refere na primeira página, na passada quarta-feira, que todos os anos muitos milhares de crianças desaparecem na Europa e informa que, segundo a Unicef, 1,2 milhões de crianças serão anualmente traficadas. A criança que desapareceu em Lagos é o primeiro caso de um menor desaparecido em Portugal a ser incluído no site da polícia britânica que trata desse flagelo.
Estes os factos. O resto é pura e simplesmente histeria.
Ponderei bastante antes de decidir dedicar a este tema a minha crónica semanal. Mas, confesso, acabei por decidir-me, baseado num movimento de revolta. Sou capaz de resistir a provocações e a sentimentos de revolta, mas, em regra, prefiro não o fazer. Creio que assim arranjo alguns inimigos, mas julgo que também evito alguns enfartes de miocárdio. E, se não gosto de enfartes, até aprecio ter inimigos; pelo que vamos a isto.
O que se está a passar por estes dias no Algarve é realmente um exemplo do estado a que chegaram as sociedades modernas e do papel profundamente nefasto que exerce a comunicação social quando decide explorar sentimentos para divulgação em prime time. O rapto de crianças é um horror, tudo o que se faça para o evitar é positivo, a consciência social tem de ser alertada para o problema.
Mas, dito isto, o rapto de crianças aos milhares, o fenómeno das crianças guerreiras em África, o genocídio em Darfur, os carros-bomba no Iraque que matam inocentes todos os dias, os acidentes de viação que ceifam vidas à saída de discotecas são o lado horrível de um tempo em que, se comparado com outras épocas da longa história da Humanidade, vale a pena viver.
Nada tenho contra uma estratégia que alerte para perigos que resultam de estarmos vivos, utilizando para isso alguns acontecimentos que, em si mesmos, são capazes de fixar a atenção dos cidadãos. E, por isso, admito que o caso da criança desaparecida em Lagos possa ser usado para efeitos pedagógicos. Nada tenho contra o debate sobre este tema (por exemplo, será razoável que pais deixem filhos muito pequenos sozinhos num lugar estranho?), mas não é, obviamente, disso que se trata. Aquilo a que assistimos é a uma telenovela estruturada para captar a atenção dos espectadores, provocando neles uma sensação de receio e de empatia ("isto podia ter-me acontecido a mim"), que todos sabemos ser o segredo do sucesso nas audiências televisivas.
Os órgãos de comunicação social gostam de valorizar o seu papel estruturante para a existência do Estado de direito. E baseiam na responsabilidade social a importância da sua actividade de denúncia de situações de corrupção e da legitimidade para resistirem a pressões políticas e económicas.
Podemos, cinicamente, afirmar que tudo isso não são mais do que tretas, má-fé, pretextos para justificar o injustificável e aumentar audiências. No meu caso, pelo contrário, afirmo que concordo com essa visão que os media gostam de dar de si próprios. Apenas exijo que, sendo assim, sejam capazes de viver de acordo com tão elevadas e meritórias ideias.
A criança desaparecida é inglesa, branca, filha de médicos bem integrados na comunidade, seguramente pessoas estimáveis, que pagam impostos e contribuem para o progresso do seu país. Mas outras crianças oriundas de territórios menos favorecidos, com pais menos integrados, desaparecem, morrem ou são raptadas todos os dias aos milhares por esse mundo fora. Mesmo em Portugal, isso vem acontecendo, infelizmente, com alguma regularidade. Citando de novo o PÚBLICO, no meritório texto que divulgou, em 2006 desapareceram em Portugal 31 crianças, mais de metade das quais com idades entre 11 e 15 anos. Apesar disso, não vi helicópteros e aviões fretados por canais de televisão, centenas de polícias e de cães mobilizados, embaixadores a fazer declarações no meio de ambulâncias, o Presidente da República a ser solicitado para declarações públicas.
As sociedades modernas vieram dar oportunidades e condições de vida que as grandes massas ao longo dos séculos nem sequer suspeitavam que fossem atingíveis. Esse enorme salto em frente vem inevitavelmente associado a riscos e perigos novos, diferentes dos que dizimavam as sociedades tradicionais. O que se passou em Lagos é estatisticamente uma inevitabilidade que decorre da realidade que define o nosso tempo; e é estatisticamente irrelevante em Portugal. Pelo contrário, o que se passa noutros países, alguns dos quais atrás mencionei, não é estatisticamente irrelevante. Mas os media, britânicos ou portugueses, estão-se positivamente borrifando, é para o lado que dormem melhor, estão-se nas tintas, porque manifestamente é mais perigoso e dá menos audiências relatar a tragédia cósmica de Darfur do que descrever em directo os pormenores do drama familiar de Lagos.
Estes são factos. Por muito que custem a engolir. Aqui ficam, por isso, relatados. Para que ao menos haja uma pessoa que escreva o que ouço dizer a muitas pessoas com que me tenho cruzado nos últimos dias.» Advogado

9.5.07

Sobre o jornalismo


Christopher Morris, My America

Excertos da entrevista dada ao Público por Christopher Morris, fotógrafo da Time e e, mais recentemente, fotógrafo oficial da Casa Branca:

A última vez que cobriu uma guerra foi o Iraque em 2003. Foi muito diferente dos conflitos que fotografou nos anos 80 e 90?

Nãããããoooo.

O seu portfólio no site da Time mostra uma guerra mais limpa. Não há sinais de sangue, de resistência aos soldados americanos, praticamente não se vêem mortos...

Proque eles não quiseram publicar. Tenho uma bela foto de um soldado americano a segurar uma perna, a andar com uma perna humana na mão, não me faltam coisas desse género. Mas eles não publicavam coisas desse género. Estávamos em 2003, o país inteiro era a favor da guerra, os média eram a favor da guerra. Lembro-me de chegarmos a Bagdad e haver, finalmente, combates a sério. Eles [os americanos]mataram civis e havia muita gente morta, fotografei tudo isso. Três dias depois, a estátua de Saddam veio abaixo. Eu mandei umas 70 fotografias para a Time, o que é bastante, e os editores disseram-se: 'Não vamos usar as tuas fotografias esta semana'. Queriam fotografias de crianças com flores à volta dos soldados. 'Tens alguma coisa assim?' E eu respondi: 'Nem sequer vi nada assim'. Aqui onde estou nós parecemos conquistadores, não libertadores. Nesta zona de Bagdad não estão a atirar-nos flores!' Mas eles não queriam ouvir isso. Havia uma fotografia que eu queria muito que eles publicassem. O grupo onde eu estava matou uma série de civis e dois soldados começaram a arrastar o corpo de um adolescente pelos pés, o rosto dele na estrada... Não era o que o público americano queria ver. Eles queriam ver a estátua a cair, o povo libertado... Até os média americanos queriam isso. Era a América patriótica - 'born in the USA'- Bruce Springsteen, esse tipo de movimento era dominante. As únicas a falar contra a guerra foram as Dixie Chicks [banda feminina de country] e foram arrasadas. Foi por isso que quem era contra acabou por ficar calado, toda a gente tinha medo de falar. Conseguiram que vencesse a ideia 'ou estás connosco ou estás contra nós'.

Trabalhar como jornalista embeded, incorporado numa divisão do exército americano, limitou as suas acção de alguma maneira?

Não. Se vamos documentá-los [aos soldados], o ideal é sermos amigos deles. Queremos viver com eles, queremos que eles confiem em nós. Se acaba de encontrar um grupo de soldados e eles estiverem a fazer qualquer coisa errada, não vão deixá-la fotografá-los. A fotografia dos soldados a arrastarem corpos pela estrada... se eu, um fotógrafo, tivesse acabado de chegar, eles não me deixariam fotografar aquilo. Teriam apontado as armas a mim. Mas eu tinha estado a viver com eles, nem sequer deram por mim ali. E isso só é possível estando embeded.

Então é uma coisa positiva?

Sim.

[Ver aqui o portfólio da cobertura que Morris fez, em Março e Abril de 2003, do início da ofensiva norte-americana no Iraque, aqui algumas das fotos do livro My America, que produziu enquanto fotógrafo da Casa Branca e aqui o protfólio dedicado pela Time à "pessoa do ano" (Bush).]

2.5.07

Indielisboa 2007

Este ano não tive disponibilidade para acompanhar o Indielisboa como em 2006. Talvez por isso, apesar da maior afluência de público, pareceu-me que a escolha de filmes deste ano foi menos interessante. Ainda assim, a organização, competente, continua de parabéns, com o festival a ganhar o seu espaço e os seus fiéis. Os meus destaques deste ano, com as sinopses fornecidas pelo site oficial do Indie:




Old Joy
, de Kelly Reichardt - «Pouco convencional e contando com o cantor Will Oldham como o improvável actor principal, OLD JOY retrata a inevitável crise existencial que ocorre na passagem para uma vida adulta mais amadurecida. Como um observador externo dos protagonistas, o filme transporta-nos para nuances psicológicas um pouco ao estilo de “Lost in Translation” ou “Before Sunrise” e “Before Sunset”, mas com o cunho muito próprio de Kelly Reichardt.
A realizadora impregna cada imagem do filme com uma atmosfera melancólica, complementada com o excelente desempenho dos actores e uma grande dose de realismo e substância. A banda sonora dos Yo La Tengo é estonteante e dá ao filme um simpático suporte, ressaltando ainda mais a subtil abordagem à intimidade masculina, à insatisfação ideológica. Tal como acontece com as personagens, o que perdura na memória do espectador são todas as coisas que não chegam a ser ditas.»



The Pervert's Guide To Cinema, de Slavoj Zizek e Sophie Fiennes - «O que pode a psicanálise dizer-nos sobre o cinema? Esta é a pergunta a que THE PERVERT´S GUIDE TO CINEMA se propõe responder. O filme conduz o espectador através de uma estimulante viagem por alguns dos maiores filmes de sempre. O guia e apresentador é Slavoj Zizek, o carismático filósofo e psicanalista esloveno. Na sua apaixonada abordagem ao pensamento, vasculha a linguagem escondida do cinema, revelando o que os filmes podem dizer-nos sobre nós próprios. Seja destrinçando os enigmáticos filmes de David Lynch, ou deitando por terra tudo o que se pensava saber sobre Hitchcock. O filme estrutura-se a partir do próprio mundo dos filmes que discute; filmado em ambientes originais ou em réplicas dos cenários, cria-se a ilusão que Zizek fala a partir do interior dos próprios filmes. “The Birds” e “Psycho”, de Hitchcock são abordados por Zizek, considerando que aquele realizador é, provavelmente, o mais freudiano de todos. Prestem atenção à comparação que Zizek faz entre os três andares da assustadora mansão de Norman Bates (“Psycho”) e o conceito freudiano de Id, Ego e Superego. O psicanalista esloveno expõe os seus argumentos de forma tão natural e convincente e ao mesmo tempo tão rápida, que a nossa mente começa a girar vertiginosamente. Uma viagem imperdível.»



The US vs, John Lennon, de David Leaf e John Scheinfeld -«É fã dos Beatles? Então não perca THE U.S. VS. JOHN LENNON. Não é fã? Veja na mesma, pois vai gostar de conhecer o homem que ousou desafiar o sistema! David Leaf e John Scheinfeld mostram-nos de forma notável a evolução de John "Give Peace a Chance" Lennon, na sua luta activa pela paz e os ódios e opressões que essa postura lhe trouxe. Especialmente focado no período pós-Beatles e numa época da sua vida (finais dos anos 60, início dos anos 70) em que o músico se transformou num activista contra a guerra, o que lhe valeu uma campanha de Nixon com vista à sua deportação, em 1972. Um extraordinário trabalho de investigação, o documentário exibe depoimentos de várias personalidades próximas do músico, imagens inéditas e uma entrevista com Yoko Ono.»

20.4.07

La France

"A campanha para a presidência tornou a trazer a velha discussão sobre 'a identidade da França', que tanto preocupa a 'inteligência' de lá e de cá. Ainda por cima, parece que desde a inconcebível sra. Ségolène até Sarkozy os próprios candidatos têm insistido num inesperado nacionalismo de Marselhesa e bandeira, que se destina, segundo consta, a espevitar um eleitorado cínico e apático. Mas nada disto ajuda. A França já não é o que era e já não pode voltar ser o que era, porque, para além da retórica, a França moderna se fundou sobre um mito que faliu, a revolução, uma realidade que vai inevitavelmente falir, a omnipotência do Estado, e na fantasia de uma 'grandeza' e de uma 'glória', que se extinguiu no princípio do século XIX e não passa hoje de um patético equívoco.
A França e os franceses gostavam de se ver como a encarnação histórica de valores que supunham universais: os valores de 1789, que, de resto, continuam a comemorar no 14 de Julho, o dia da tomada da Bastilha. Desgraçadamente esses valores desapareceram depressa e o que ficou e se propagou foi o exemplo da revolução. Por outras palavras, da violência. A liberdade, a igualdade e a fraternidade não prosperaram em França como prosperaram em Inglaterra, na América ou na Escandinávia. O grande legado da Bastilha ao mundo acabou por ser o culto do terror, como panaceia para qualquer espécie de injustiça, e a justificação desse terror como 'filosofia do progresso'. Não por acaso, o leninismo, o estalinismo e a aberração marxista encontraram em França os seus mais devotos defensores. Afinal, não estavam eles convencidos que 1917 consumava 1789?
O colapso da fé revolucionária entre 1970 e 1990 deixou a França sem destino. Aquilo que durante tanto tempo representara já não convencia ninguém. Pelo contrário, horrorizava agora quase toda a gente. A política interna, a guerra franco-francesa entre a esquerda e a direita, perdeu pouco a pouco a relevância e a razão. Os partidos caíram no 'pântano' centrista. E veio ao de cima a autêntica França: xenófoba e conservadora, e naturalmente azedada pela sua actual insignificância. No meio, sobrou um Estado providência insustentável, a semana de 35 horas, leis de trabalho que asseguram o desemprego, uma dívida externa esmagadora, um défice perene, um crescimento do PIB pior do que o de Portugal e um declínio constante do poder de compra. Os candidatos prometem, como sempre, mudança, mas neste caso mudar implica a rejeição de dois séculos de História. Não admira que se comece a falar na VI República. Mudar de República, isso, os franceses sabem fazer."
20.04.2007, Vasco Pulido Valente; Jornal Público

13.4.07

A Filha Rebelde
(em cena no Teatro Nacional D. Maria II, até 20 de Maio)
encenação dramaturgia HELENA PIMENTAcenografia JOSÉ MANUEL CASTANHEIRAdirecção musical JOÃO CABRITAfigurinos ANA GARAYmovimento NURIA CASTEJÓNdesenho de luz JOSÉ CARLOS NASCIMENTOassistente de encenação CRISTINA LOZOYAassistente de figurinos GILBERTO SORAGGI
COM
ANA BRANDÃO EURICO LOPES LÍDIA FRANCO VÍTOR NORTECÉLIA ALTURAS MARQUES D’AREDE JOANA BRANDÃO MANUEL COELHORAQUEL DIAS BIBI GOMES JOSÉ HENRIQUE NETO ALEXANDRE OVÍDIO RUI QUINTASNÁDIA SANTOS SÉRGIO SILVA ANABELA TEIXEIRA JAIME VISHAL AMÍLCAR AZENHA

3.4.07

uma pérola musical do Recôncavo Baiano


Edith do Prato, Vozes da Purificação (álbum gravado em 2002), com a participação de Caetano Veloso e Maria Bethânia.

"nunca vi casa nova cair nunca vi casa nova cair"

28.3.07

Ontem proletários, hoje precários

Por muita demagogia que haja na causa (e há) , neste texto sobre a bem apelidada "Geração 500 euros" está identificado um problema social que terá consequências imprevisíveis no futuro.
O trabalho precário ganha ascendente, mas continuam a pedir aos novos que comprem casas e carros a preços cada vez mais exorbitantes, que paguem as contas cada vez mais caras, que tenham filhos e rendimentos para os educar decentemente, que se endividem até ao tutano. Em troca dão-lhes as migalhas dos biscates, os recibos verdes., a precariedade.
E de quem é a culpa? Não é de ninguém, claro. Numa sociedade burocrática (são todas), a culpa reparte-se até à diluição.



buraco


Arranje-me um buraco
ficar-lhe-ia eternamente grato
se me arranjasse um buraco
pode ser daqueles pequenos
dois metros quadrados, mais não
dispenso a janela, o ponto de fuga
basta uma arrecadação
cave ou sub-cave
secretária plastificada
monitor sem filtro
e um banquinho de cozinha
Arranje-me um buraco
ficar-lhe-ia eternamente grato
ocupo pouco espaço
sou pessoa de bom trato

venho a recibo verde
é barato, nem precisa de contrato

e, prometo
dou conta do mandato
sem cobrar extraordinárias


(escrito em 15/3/04)

21.3.07

As Vidas dos Outros


As Vidas dos Outros

Filme realizado em 2006 por Florian Henckel von Donnersmarck, com Martina Gedeck, Ulrich Mühe e Sebastian Koch. Venceu, este ano, o Óscar para o melhor filme estrangeiro.

12.3.07

Bob Dylan


"Na realidade, se Dylan se tornou um fenómeno 'global' foi menos por aquilo que nos dizia do que pela forma como o dizia. O filme de Scorsese mostra bem como a sua música era frágil, o seu domínio instrumental reduzido, a sua voz periclitante; e também como ele, talvez nem sempre conscientemente, foi encarnando diversas personagens nesses anos iniciais e decisivos da sua carreira. A do rapaz rebelde, de boné de bombazine e andar desengonçado, de respostas lacónicas e porte descuidado, é seguramente a que mais directamente falava à minha (e à sua) geração. Dylan era, antes de mais, uma atitude, e essa atitude dava expressão a um desejo informe de romper com a codificação dos comportamentos nas sociedades 'normalizadas' do pós-guerra. Mas a atitude de Dylan manifestava-se ainda por sons musicais. Que música era essa? Na sua penetrante análise do mito, James Miller (Flowers in the dustbin, 1999) adianta esta explicação, que me parece justíssima: O que importa é a voz de Dylan: a poesia da canção depende dela. Por exemplo, a forma como ele martela uma frase como 'How does it FEEEEEEEEL?', transforma a pergunta num insulto. A canção não pode ser separada do cantor. E, mais adiante: É como se as canções de Dylan [em vez de serem cantadas] o cantassem a ele.

Havia na voz de Dylan um sentido de urgência, uma recôndita pulsão primordial, que a tornava um uivo, antes de ser canto ou música ou poesia. E, claro, a simplicidade dos acompanhamentos e a eficácia contagiante dos motivos poéticos fizeram das suas canções elementos culturais reproduzíveis em qualquer parte do planeta. Era uma voz solitária cantada por milhões.

António Mega Ferreira (crónica publicada na revista Visão, de 7/9/06)






Manchester, 1966
Não sei por que soavas tão único no poema
gloriosamente exaltado
Fazendo-me acreditar nos anjos de pureza
de Lautréamont

(1999)

7.3.07

Letters From Iwo Jima



Letters From Iwo Jima, filme realizado em 2007 por Clint Eastwood, com Ken Watanabe, Kazunari Ninomiya e Tsuyoshi Ihara

[Nota - Os leitores deste blog terão reparado no seu novo aspecto. A verdade é que o Economia de Palavras faz dois aninhos hoje e decidi mudar-lhe as cores e o cabeçalho, concebido pelo Rodrigo de Matos, com base numa foto que tirei junto ao Marvão. Os meus agradecimentos ao Rodrigo e espero que gostem!]

26.2.07

Glórias Passadas


Quem embarca num dos muitos cruzeiros que descem o Nilo depara-se com terras miseráveis e populações que vivem, em grande parte, da herança grandiosa do Antigo Egipto. Os barcos fazem escala em povoações próximasdas ruínas dos templos mais magníficos e os naturais dessas terras recônditas vêem o turista ocidental comosinónimo de dinheiro. Não admira: o salário médio do país é de 100 euros e há uma faixa muito grande de egípcios a viver no limiar da subsistência.
Em Kom Ombo, por exemplo, logo que metem o pé em terra e começam a caminhar numa espécie de avenida esburacada e lamacenta, aparentemente em obras, em direcção ao templo dedicado aos deuses Haroeris e Sobek, os turistas são abordados por dezenas de miúdos esfarrapados e sujos, que mendigam gorjetas ou tentam vender toscos escaravelhos – símbolos da sorte – feitos de barro.
Mais à frente, mulheres sentadas no chão, todas cobertas por vestes negras, mostram véus eexóticos trajes de dança do ventre, cravejados delatão dourado. No regresso ao barco, depois de apreciado opôr-do-sol, com o grande Nilo no horizonte e as tonalidades douradas do fim de tarde reflectidas no templo, o assédio é ainda maior. Os lojistas dopequeno mercado instalado no exterior do monumento não têm mãos a medir. São vendedores extremamente persistentes e, por vezes, as suas técnicas de vendaroçam a aldrabice, como quando apregoam um preço que afinal “era só para ver a peça”, ou quando tentam transformar o troco devido numa pequena pirâmide oununs horríveis brincos “kitsch”.
Ultrapassado o mercado, surgem pequenas figuras fantasmagóricas, mais escuras do que o escuro envolvente, que parecem fascinadas com a presença destes pálidos extraterrestres falantes de línguas estranhas, bem vestidos, munidos de máquinas fotográficas digitais,câmaras de filmar, telemóveis e outros utensílios muito vistos, mas nunca manuseados. Extraterrestres que representam a hipótese de aquelas criança sencardidas poderem ter uma refeição melhor. Mesmo dando o desconto de uma certa encenação para impressionar, a miséria é grande. E, não fosse a glória dos faraós – que explica os milhares de turistas que caminham por aquelas avenidas esburacadas–, seria ainda maior.
[PB, publicado em 2003]

22.2.07

The Road to Guantanamo


The Road to Guantanamo, docu-drama realizado em 2006 por Michael Winterbottom. Um trabalho importante para quem se interesse pela temática dos Direitos Humanos.

7.2.07

Los lunes al sol


Los lunes al sol, filme realizado em 2002 por Fernando León de Aranoa, com Javier Bardem

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