9.5.07
Sobre o jornalismo

Christopher Morris, My America
Excertos da entrevista dada ao Público por Christopher Morris, fotógrafo da Time e e, mais recentemente, fotógrafo oficial da Casa Branca:
A última vez que cobriu uma guerra foi o Iraque em 2003. Foi muito diferente dos conflitos que fotografou nos anos 80 e 90?
Nãããããoooo.
O seu portfólio no site da Time mostra uma guerra mais limpa. Não há sinais de sangue, de resistência aos soldados americanos, praticamente não se vêem mortos...
Proque eles não quiseram publicar. Tenho uma bela foto de um soldado americano a segurar uma perna, a andar com uma perna humana na mão, não me faltam coisas desse género. Mas eles não publicavam coisas desse género. Estávamos em 2003, o país inteiro era a favor da guerra, os média eram a favor da guerra. Lembro-me de chegarmos a Bagdad e haver, finalmente, combates a sério. Eles [os americanos]mataram civis e havia muita gente morta, fotografei tudo isso. Três dias depois, a estátua de Saddam veio abaixo. Eu mandei umas 70 fotografias para a Time, o que é bastante, e os editores disseram-se: 'Não vamos usar as tuas fotografias esta semana'. Queriam fotografias de crianças com flores à volta dos soldados. 'Tens alguma coisa assim?' E eu respondi: 'Nem sequer vi nada assim'. Aqui onde estou nós parecemos conquistadores, não libertadores. Nesta zona de Bagdad não estão a atirar-nos flores!' Mas eles não queriam ouvir isso. Havia uma fotografia que eu queria muito que eles publicassem. O grupo onde eu estava matou uma série de civis e dois soldados começaram a arrastar o corpo de um adolescente pelos pés, o rosto dele na estrada... Não era o que o público americano queria ver. Eles queriam ver a estátua a cair, o povo libertado... Até os média americanos queriam isso. Era a América patriótica - 'born in the USA'- Bruce Springsteen, esse tipo de movimento era dominante. As únicas a falar contra a guerra foram as Dixie Chicks [banda feminina de country] e foram arrasadas. Foi por isso que quem era contra acabou por ficar calado, toda a gente tinha medo de falar. Conseguiram que vencesse a ideia 'ou estás connosco ou estás contra nós'.
Trabalhar como jornalista embeded, incorporado numa divisão do exército americano, limitou as suas acção de alguma maneira?
Não. Se vamos documentá-los [aos soldados], o ideal é sermos amigos deles. Queremos viver com eles, queremos que eles confiem em nós. Se acaba de encontrar um grupo de soldados e eles estiverem a fazer qualquer coisa errada, não vão deixá-la fotografá-los. A fotografia dos soldados a arrastarem corpos pela estrada... se eu, um fotógrafo, tivesse acabado de chegar, eles não me deixariam fotografar aquilo. Teriam apontado as armas a mim. Mas eu tinha estado a viver com eles, nem sequer deram por mim ali. E isso só é possível estando embeded.
Então é uma coisa positiva?
Sim.
[Ver aqui o portfólio da cobertura que Morris fez, em Março e Abril de 2003, do início da ofensiva norte-americana no Iraque, aqui algumas das fotos do livro My America, que produziu enquanto fotógrafo da Casa Branca e aqui o protfólio dedicado pela Time à "pessoa do ano" (Bush).]