9.2.06

"Apesar de tudo, saí para a rua
com bastante naturalidade
e que vi eu? Que é isto?
(E que esperava eu ver?)"



Autografia, um documentário realizado por MIGUEL GONÇALVES MENDES em 2004, sobre MÁRIO CESARINY

Excertos de declarações de Cesariny presentes neste soberbo documento sobre a vida e a velhice do poeta:

"Não há grande consolação, porque se houvesse a eternidade era uma coisa... mas não há. Não interessa quantos milhares de anos o planeta Terra vai levar para explodir, portanto... acaba por desaparecer tudo, pfff... É muito misterioso isto tudo.
- Então, para que é que isto serve?
Serve para foder, que é muito agradável, dá muito gozo; serve para amar e serve para morrer, pronto. A criança é a máscara do velho, mas o certo é que a criança enquanto criança é mesmo criança, não é velho, etc."

"Era uma altura em que a minha gente estava viva, tanto amigos verdadeiros como gente para passar um bocado na cama. Tudo isso funcionava, com a polícia a correr atrás, a chatear... também havia maneiras de chatear a polícia. E agora nem polícia nem ladrões, é um deserto."

"Portugal sempre foi um país onde não se diz o que interessa."

"Acho que sou um poeta bastante sofrível numa época em que o tecto está muito baixo. Um grande poeta numa época em que não há Anteros, não há Camilos Pessanhas, não há Guerras Junqueiros, não há Pessoas, se quiseres. Há para aí uma data de gente a publicar livros de poesia que aquilo há-de ir parar... não sei... há-de ir parar muito longe, muito longe."

"A poesia foi um fogo muito intenso que ardeu e depois ficaram as cinzas. Não sou capaz de fazer versos porque sim, ou só para os editar, ter mais um livro. Acabou. E não julgues que não tenho saudades desses tempos em que andava pelos cafés ou pelas ruas. Nunca escrevi um poema em casa, nunca. Não me perguntes porquê. Era como voar. Foi-se..."

"antónio maria lisboa - su-i-ci-da-do
carlos luís da costa - pide
pedro oom - morto de emoção quando libertaram os presos de caxias
fernando dos santos - morto no mar
alexandre o'neill - morto morto
jean claude guimarães - não sei quem é [risada]
manuel de assunção - morto
jão vasconcelos pascoaes - morto
josé sevado - morto
mário henriques leiria - morto
ricardo décio - morto, matou a mulher, matou o gato e matou-se a si mesmo. tenho muita admiração por ele e devo-lhe muito
joão artur silva - morto
ernesto sampaio - morto, porque não conseguiu viver sem a fernanda
helena fernandes - a noiva alquímica
- e lisboa? [perguntam-lhe]
- lisboa para mim desapareceu, morreu sem enterro."
Comments: Enviar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?