7.9.05
Lisboa depois da Holanda (18/7) – Regressar a Portugal, e principalmente a Lisboa, depois da experiência da Índia e dos meses na Holanda, é estranho. Estar fora foi uma felicidade. Na Índia vi dimensão e exotismo, em Veneza elegância e fausto, na Holanda organização e qualidade de vida. Aqui vejo atraso e aperto. O anúncio no Metro com um tipo engravatado submerso em água: "Afogado em dívidas?" É, claro, publicidade de uma empresa de crédito "a prestações mais suaves". Ando de café em café a fazer tempo enquanto a B. trata dos seus assuntos. Não tenho casa. Ontem passei à porta da nossa antiga casa. Olhei para a varanda e lá estava o velho e ferrugento escadote a um canto, onde o tinha deixado. Estão tapetes estendidos na grade da varanda e esses não são meus. A casa já é de outros e não quereria voltar lá. Lugar comum verdadeiro: não se volta ao sítio onde se foi feliz.
Voltando a Utrecht – Faz pouco mais de um mês desde que saí da Holanda e já estou completamente imbuído na realidade lusa. O contraste é tal que Utrecht parece estar bem mais para trás. A C. e o M., a N. e o A., as longas passeatas de bicicleta e os cafés acolhedores da cidade, tudo isso me parece estar numa outra dimensão. E está.
É curioso que nos últimos tempos da Holanda sentia o contrário. Era Portugal que surgia como uma realidade distante e esbatida. E eu sentia-me bem com isso. Não tinha grandes saudades do que sabia vir encontrar. Havia uma nostalgia dos amigos, da comida, do clima, mas não do país. Não da sociedade portuguesa, ignorante e medíocre. Sentia-me protegido disso, longe. Sabia que estava num jardim ,um sítio melhor, mais justo e civilizado.
Em todo o caso (gosto desta expressão, que o D. costuma usar), comecei a perder o contacto com o país. Muito paulatinamente, mas de forma visível. As notícias portuguesas foram deixando de ser urgentes. Ao deixar de ver a televisão nacional, deixei de ter acesso às caras de que se falava nos jornais. Metade dos políticos do novo Governo eram desconhecidos para mim. Nunca os tinha ouvido ou visto. E ainda bem, não tinha perdido nada.
O que aconteceria se ficasse mais tempo? O processo progrediria inapelavelmente. Veja-se os exemplos da C. e da N., que já têm uma ideia muito vaga do país. Quando muito, vêm cá nas férias passar alguns dias. Falam de Portugal sem qualquer nostalgia. Estão noutra e estão bem. Acho que estão conscientes daquilo de que se safaram.
Eu acho interessante essa ideia de distância em relação à "pátria". Acho que um tipo deveria viver muitas vidas ao longo da sua vida. E vivê-las em sítios diferentes, com pessoas diferentes. Estes meses holandeses foram essencialmente isso: uma outra vida. Venham mais!
Voltando a Utrecht – Faz pouco mais de um mês desde que saí da Holanda e já estou completamente imbuído na realidade lusa. O contraste é tal que Utrecht parece estar bem mais para trás. A C. e o M., a N. e o A., as longas passeatas de bicicleta e os cafés acolhedores da cidade, tudo isso me parece estar numa outra dimensão. E está.
É curioso que nos últimos tempos da Holanda sentia o contrário. Era Portugal que surgia como uma realidade distante e esbatida. E eu sentia-me bem com isso. Não tinha grandes saudades do que sabia vir encontrar. Havia uma nostalgia dos amigos, da comida, do clima, mas não do país. Não da sociedade portuguesa, ignorante e medíocre. Sentia-me protegido disso, longe. Sabia que estava num jardim ,um sítio melhor, mais justo e civilizado.
Em todo o caso (gosto desta expressão, que o D. costuma usar), comecei a perder o contacto com o país. Muito paulatinamente, mas de forma visível. As notícias portuguesas foram deixando de ser urgentes. Ao deixar de ver a televisão nacional, deixei de ter acesso às caras de que se falava nos jornais. Metade dos políticos do novo Governo eram desconhecidos para mim. Nunca os tinha ouvido ou visto. E ainda bem, não tinha perdido nada.
O que aconteceria se ficasse mais tempo? O processo progrediria inapelavelmente. Veja-se os exemplos da C. e da N., que já têm uma ideia muito vaga do país. Quando muito, vêm cá nas férias passar alguns dias. Falam de Portugal sem qualquer nostalgia. Estão noutra e estão bem. Acho que estão conscientes daquilo de que se safaram.
Eu acho interessante essa ideia de distância em relação à "pátria". Acho que um tipo deveria viver muitas vidas ao longo da sua vida. E vivê-las em sítios diferentes, com pessoas diferentes. Estes meses holandeses foram essencialmente isso: uma outra vida. Venham mais!
Comments:
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É verdade, amigo, "a realidade lusa" entranha-se e não são precisos muitos dias para isso acontecer.
Vamos esperar e fazer por uma outra vida, que isto aqui é o que se sabe.
abraço!
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Vamos esperar e fazer por uma outra vida, que isto aqui é o que se sabe.
abraço!
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