28.3.07

Ontem proletários, hoje precários

Por muita demagogia que haja na causa (e há) , neste texto sobre a bem apelidada "Geração 500 euros" está identificado um problema social que terá consequências imprevisíveis no futuro.
O trabalho precário ganha ascendente, mas continuam a pedir aos novos que comprem casas e carros a preços cada vez mais exorbitantes, que paguem as contas cada vez mais caras, que tenham filhos e rendimentos para os educar decentemente, que se endividem até ao tutano. Em troca dão-lhes as migalhas dos biscates, os recibos verdes., a precariedade.
E de quem é a culpa? Não é de ninguém, claro. Numa sociedade burocrática (são todas), a culpa reparte-se até à diluição.



buraco


Arranje-me um buraco
ficar-lhe-ia eternamente grato
se me arranjasse um buraco
pode ser daqueles pequenos
dois metros quadrados, mais não
dispenso a janela, o ponto de fuga
basta uma arrecadação
cave ou sub-cave
secretária plastificada
monitor sem filtro
e um banquinho de cozinha
Arranje-me um buraco
ficar-lhe-ia eternamente grato
ocupo pouco espaço
sou pessoa de bom trato

venho a recibo verde
é barato, nem precisa de contrato

e, prometo
dou conta do mandato
sem cobrar extraordinárias


(escrito em 15/3/04)

21.3.07

As Vidas dos Outros


As Vidas dos Outros

Filme realizado em 2006 por Florian Henckel von Donnersmarck, com Martina Gedeck, Ulrich Mühe e Sebastian Koch. Venceu, este ano, o Óscar para o melhor filme estrangeiro.

12.3.07

Bob Dylan


"Na realidade, se Dylan se tornou um fenómeno 'global' foi menos por aquilo que nos dizia do que pela forma como o dizia. O filme de Scorsese mostra bem como a sua música era frágil, o seu domínio instrumental reduzido, a sua voz periclitante; e também como ele, talvez nem sempre conscientemente, foi encarnando diversas personagens nesses anos iniciais e decisivos da sua carreira. A do rapaz rebelde, de boné de bombazine e andar desengonçado, de respostas lacónicas e porte descuidado, é seguramente a que mais directamente falava à minha (e à sua) geração. Dylan era, antes de mais, uma atitude, e essa atitude dava expressão a um desejo informe de romper com a codificação dos comportamentos nas sociedades 'normalizadas' do pós-guerra. Mas a atitude de Dylan manifestava-se ainda por sons musicais. Que música era essa? Na sua penetrante análise do mito, James Miller (Flowers in the dustbin, 1999) adianta esta explicação, que me parece justíssima: O que importa é a voz de Dylan: a poesia da canção depende dela. Por exemplo, a forma como ele martela uma frase como 'How does it FEEEEEEEEL?', transforma a pergunta num insulto. A canção não pode ser separada do cantor. E, mais adiante: É como se as canções de Dylan [em vez de serem cantadas] o cantassem a ele.

Havia na voz de Dylan um sentido de urgência, uma recôndita pulsão primordial, que a tornava um uivo, antes de ser canto ou música ou poesia. E, claro, a simplicidade dos acompanhamentos e a eficácia contagiante dos motivos poéticos fizeram das suas canções elementos culturais reproduzíveis em qualquer parte do planeta. Era uma voz solitária cantada por milhões.

António Mega Ferreira (crónica publicada na revista Visão, de 7/9/06)






Manchester, 1966
Não sei por que soavas tão único no poema
gloriosamente exaltado
Fazendo-me acreditar nos anjos de pureza
de Lautréamont

(1999)

7.3.07

Letters From Iwo Jima



Letters From Iwo Jima, filme realizado em 2007 por Clint Eastwood, com Ken Watanabe, Kazunari Ninomiya e Tsuyoshi Ihara

[Nota - Os leitores deste blog terão reparado no seu novo aspecto. A verdade é que o Economia de Palavras faz dois aninhos hoje e decidi mudar-lhe as cores e o cabeçalho, concebido pelo Rodrigo de Matos, com base numa foto que tirei junto ao Marvão. Os meus agradecimentos ao Rodrigo e espero que gostem!]

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